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*Texto publicado originalmente no livro A Microscopia Eletrônica no Brasil, editado pela SBMM em 1990.

A microscopia eletrônica chegou cedo ao Brasil, pois em 1947 a RCA trazia para demonstração em São Paulo e no Rio de Janeiro, dois modelos de microscópios, EMU tipo universal e um modelo console, o EMC. Nasceram, então os Laboratórios de Microscopia Eletrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que apesar de passar para o Instituto de Física (na reforma universitária de 1968) continuou sendo sempre, até hoje, o mesmo laboratório; e também o Laboratório do Instituto Oswaldo Cruz de Manguinhos, onde trabalhou Hans Muth, examinando materiais biológicos; nesse laboratório pesquisou, entre outros, Rudolph Barth. Vê-se com prazer que sua filha Monika continua em microscopia eletrônica com o mesmo entusiasmo. Dos outros dois microscópios RCA, tipo console, um foi para São Paulo, para a Fundação Andrea e Virginia Matarazzo, que ocupava sala no 4o andar da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob a responsabilidade de Piero Manginelli e o outro ficou no Laboratório da Polícia Técnica do Rio de Janeiro, com Antonio Carlos Villanova; foi onde Ivone Visconti, do INT, começou os primeiros estudos sobre argilominerais brasileiros. 

No Laboratório de Microscopia Eletrônica da Escola Politécnica trabalharam primeiro Paulus A. Pompéia, que mais tarde foi um dos fundadores do ITA de São José dos Campos e, em seguida, Paulo Ribeiro de Arruda. Nessa época iniciaram-se os estudos, em colaboração com o IPT e com a EPUSP, da microscopia eletrônica de argilas e materiais cerâmicos. 0 LME foi muito apoiado pela Fundação Rockefeller: graças a qual, se tem até hoje um ambiente interdisciplinar, onde são tratados concomitantemente programas de pesquisas em Biologia e em Materiais; e trazendo para o Instituto de Física a graça do convívio de Marina Silveira e as vantagens de misturar técnicas convencionalmente usadas na Biologia em Materiais, como por exemplo o corte ultra fino, que vem sendo usado em argilominerais.

Desde o seu início e durante muitos anos foi um laboratório de suporte a pesquisa em microscopia nas duas áreas; foi com bolsa de estudos da Fundação Rockefeller que Helena de Souza Santos realizou estagio no Departamento de Biofísica do Massachussets Institute of Technology, que era dos mais adiantados da época em microscopia eletrônica. Era chefe deste laboratório Francis Schmitt e era oferecido um curso de pós graduação em microscopia eletrônica, lecionado por Cecil Hall, que deu origem ao livro onde, com certeza, a maioria dos microscopistas aprenderam microscopia eletrônica e que se tornou um clássico.

O Laboratório de Microscopia Eletrônica do Instituto Butantan foi fundado por Juan Angulo em 1952, que com o apoio de Vallejo-Freire adquiriu nessa época o primeiro Simens do Brasil; hoje é chefiado por Adolpho Brunner Jr. Em 1951 Carlos Chagas esperava um microscópio eletrônico para o Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - seria um Philips, onde Hertha Mayer prosseguiria seus trabalhos sobre Trypanosoma cruzi e m cultura de tecidos. Raul Machado trabalhava em microscopia óptica no Instituto de óleos e já se interessava por microscopia eletrônica, em contatos com Hans Muth; passava então para o Jardim Botânico e depois de um estágio no Instituto Rockefeller com Keith Porter, onde estudou retículo endoplasmático de células vegetais, obtendo micrografias que ficaram clássicas, sendo capas de revistas e figurando em Livro texto, monta um dos laboratórios mais completos e perfeitos do Brasil.

Mais tarde continuaria o trabalho no mesmo padrão e com o mesmo perfeccionismo, acrescentado de sofisticações, no Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sem duvida hoje um dos melhores e mais ativos laboratórios do país. Elliot Kitajima, um dos maiores nomes em vírus no Brasil, implantou o Laboratório de Microscopia Eletrônica do Instituto Agronômico de Campinas em 1961; hoje encontra-se na Universidade de Brasília no Instituto de Biologia.

Elliot é um colega que orgulha a microscopia eletrônica pelo seu entusiasmo: pesquisador incansável e produtivo, possui um número vultuoso de publicações. No Instituto Adolfo Lutz a microscopia eletrônica tem início logo cedo em 1961 com Eunice Almeida Cazarré; por muitos anos chefiou esse laboratório Dalton Weigl, estando hoje a responsabilidade com Hatune Tanaka. Em 1966 chegava um microscópio eletrônico Zeiss para o Departamento de Histologia da Faculdade de Medicina da USP em nome de Luiz Carlos Junqueira e Antônio Sesso.

Esse foi o início do Setor de Microscopia Eletrônica do Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, onde no momento trabalha Paulo Abrahamsohn. Antonio Sesso continua na Faculdade Medicina, os seus trabalhos com autoradiografia de alta resolução, morfometria e técnicas de crio-fratura. Em Belo Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais, Washington Luis Tafuri inicia 1967 o Centro de Microscopia Eletrônica da Faculdade de Medicina no Departamento de Patologias; por sua vez o casal Machado trabalha em microscopia eletrônica no Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas. Darcy Martins Silva trabalha em vírus no CENA da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz; o Laboratório de Microscopia Eletrônica teve início em 1969.

O grupo de Microscopia Eletrônica de Ribeirão Preto teve início em Junho de 1968; logo converteu-se em um centro que polarizou por breve e profícuo tempo as atenções da comunidade de microscopistas eletrônicos do triângulo São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Esse fato culminou com a reunião dos microscopistas naquela cidade em 1970, quando foram lançadas as bases para a fundação da Sociedade Brasileira de Microscopia Eletrônica.

A reunião de 1970 (o primeiro Colóquio), despertou grande entusiasmo ao se constatar que os trabalhos dos diversos grupos (do grupo de Ribeirão Preto, de Tafuri em Belo Horizonte, de Raul Machado e Hertha Mayer no Rio de Janeiro, de Helena de Souza Santos em São Paulo e do Laboratório da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo) já compunham um corpo expressivo e que reclamava que os microscopistas eletrônicos se reunissem em uma associação.

Comparando em retrospectiva tem-se a sensação que avaliando-se globalmente, a qualidade dos trabalhos dos microscopistas eletrônicos de então, era de bom nível e relativamente menos defasada que hoje do nível dos bons centros do hemisfério norte. Vinte anos depois daquela auspiciosa reunião, a esperança renasce com a implantação pela FINEP do Programa Setorial de Microscopia Eletrônica; que visa recolocar a maioria dos laboratórios da comunidade de microscopistas naquela situação anterior. Orlando de Freitas estabeleceu em 1968 um Centro de Microscopia Eletrônica na Universidade Federal do Paraná, extremamente bem organizado. No momento é diretor do Centro Waldemiro Gremski, tendo sempre como vice-diretor Robin Hoffmeister. Carminda da Cruz Landim montou o Laboratório de Microscopia Eletrônica de Rio Claro (UNESP) em 1969; Hoje trabalha com abelhas, sempre muito ativa e produtiva.

O Centro de Microscopia Eletrônica da UNICAMP teve início em 1970 sob a responsabilidade de W. Hadler. Hoje esta sob a responsabilidade de Maria Alice Hoffling. O Laboratório de Microscopia Eletrônica da Escola Paulista de Medicina teve início em 1970 sob a responsabilidade de Nylceo Marques de Castro, mas durante muitos anos esteve a frente Irineu Pontes Pacheco. Hoje o responsável é Hisakazu Hayashi, juntamente com Sima Katz e Ricardo Smith.

Em Belém, Ronaldo Araújo inicia o Núcleo de Patologia Regional e Higiene na Universidade Federal do Pará, em 1975, mantendo grande intercâmbio com pesquisadores alemãs do Instituto Tropical de Hamburgo. Wanderley de Souza aparece em cena em 1971, no Colóquio de Microscopia Eletrônica em São Paulo, quando foi fundada a Sociedade Brasileira de Microscopia Eletrônica, da qual já foi presidente duas vezes; acompanhando Hertha Meyer, extremamente jovem, extremamente tímido, hoje é um dos líderes da microscopia eletrônica no Brasil, chefiando o grupo do laboratório do Instituto de Biofísica da UFRJ, Onde mantém uma atitude de produtividade impar; trabalhando principalmente em Trypanosoma cruzi, usa todas as técnicas de vanguarda em microscopia eletrônica e possui um grande número de publicações de nível internacional.

A década compreendida entre 1970 e 1980 vê o surgimento de um grande número de laboratórios dedicados a área de Materiais: Em São Paulo entre outros: 1) Escola Politécnica da USP - Adnei Melges de Andrade na área de microeletrônica; 2) grupo do IPEN iniciado por Clauer Trench Freitas e hoje sob a responsabilidade de Waldemar Monteiro, trabalhando em metais; Ana Helena Bressiani trabalha em cerâmica avançada e outros materiais nucleares. 3) Escola de Engenharia de São Carlos ­ Depto. de Ciência dos Materiais, onde trabalha Waldir Garlip. 4) Na Universidade Federal de São Carlos - Depto. de Engenharia de Materiais - que teve início com Hans Jurgen Kestenbach, vindo do Instituto Militar de Engenharia do Rio e hoje está sob a responsabilidade de Walter Botta Jr. Trabalham no momento principalmente em defeitos de Metais. 5) Instituto de Geociências da USP. Atualmente no Rio de Janeiro existem vários laboratórios de microscopia eletrônica dedicados à pesquisa e desenvolvimento de materiais: Instituto Militar de Engenharia; INT; Instituto de Geociências; Companhia Siderúrgica Nacional, CETEM, CENPES da Petrobrás; CEPEL e a COPPE, essa última, em torno de 1973, no Programa de Engenharia Metalúrgica, com o microscópio eletrônico Cambridge Stereoscan foram iniciados estudos de materiais e processos metalúrgicos sob a direção de Walter Manheimer.

É importante também mencionar a Sociedade Brasileira de Microscopia Eletrônica, por ser o órgão que vem permitindo não só congregar os pesquisadores para comunicações dos seus resultados nas áreas Biológicas e de Materiais, bem como manter a atualização de técnicas através de cursos intensivos, de seminários, mesas-redondas, conferências, etc. A idéia dessa Sociedade foi proposta pelo grupo de Ribeirão Preto, como já dito, e fundada em São Paulo durante 0 II Colóquio em 1971 sendo a sua primeira diretoria, com muita justiça, confiada ao grupo de Ribeirão Preto sob a presidência de Victório Valeri (Vice-Diretor: Renato Pinto Gonçalves, Secretário: György Bohn, Tesoureiro: Ithamar Vugman).

Nos anos subsequentes, sucederam-se as diretorias seguintes: Falando no passado, é imprescindível que nos voltemos para o futuro. Assim lançamos o olhar para a nova fornada de jovens valorosos que se apresenta promissora: Egle Conforto, trabalhando em semi-condutores na Telebras, Edna Haapalnen, trabalhando em Trypanosoma cruzi no ICB; Ruy Jaeger tentando e lutando com a Implantação da microscopia eletrônica de varredura na Odontologia da USP; Elisa Gregório, trabalhando na Universidade Estadual Paulista no Instituto de Biologia Médica e Agricola, Maria Cecília Nóbrega que vem levando as pesquisas em materias na COPPE com energia; Pedro Kiyohara, já um marco na microscopia de varredura e Microanálise de raios-X, trabalhando no LME do IFUSP; Alberto Ribeiro do IBUSP, trabalhando com insetos e mantendo grande intercâmbio com o Instituto Gulbenkian em Oeiras, Portugal; Romio Taga, do Departamento de Morfologia da Faculdade de Odontologia de Bauru: fase da iniciação de estudos morfométricos no Brasil.

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